Tentei definir a saudade, mas me perdi nos seus conceitos
Fechei os olhos e achei melhor senti-la do que explicá-la
Nesse momento, esqueci de olhar pra mimProcurei um espaço que trouxesse paz
Resgatei o tempo, as pessoas, as lembranças.
Descobri que sofrer por saudade entristece a alma,
envelhece o espírito e aperta o coração em meio às pancadas da nostalgia
daquilo que se foi, deixou de ser, permanece ou poderia ter sido;
De lugares, amores, infância e amigos.
Saudade se disfarça de ausência, confundindo a realidade;
É o medo de perder aquilo que nunca se teve;
Bate a porta sem avisar, às vezes calada; outras, ensurdecedora;
Fica nos cantinhos da casa, nos odores, na rotina;
Esgueira-se entre os travesseiros, quer dormir perto, junto ao peito;
Rasteja-se pela pele sem vontade de ir embora;
A saudade permanece nos acontecimentos, nas pessoas, no acaso, no previsível;
Confude-se com as folhas do outono: caem mas continuam lá,
esperando um vento que as leve embora;
Ressoa entre os vãos, percorrendo o tempo, sem pressa;
Deixa rastros e continua viva na sutileza das palavras e do pensamento alheio.
Senti-la é viver um flashback de emoções
que me faz acreditar que o provavel quase sempre torna-se real.
E entre sentir e pensar, sem querer, consegui defini-la.
Percebi que as lembranças nao precisam ser tristes pra que a saudade sobreviva ao tempo
Resgatei idéias guardadas no baú dos sonhos,
procurando tirar a poeira de um passado recente
E vi que, na vida, nada falha. O medo não existe mais.
E sem medo, enxugamos as lágrimas, respiramos fundo e seguimos em frente, como tem que ser.
"Saudade é respirar o sentimento daquilo que nos completa, onde quer que isso esteja." (Giuliano)
"Eu Sei, Mas Não Devia.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: "hoje não posso ir".
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma". (Marina Colasanti)
Parabéns Giuliano.
ResponderExcluirConseguiste passar para o papel tudoi aquilo que realmente tds nós temos vontade de dizer e muitas vezes por algum motivo não conseguimos nos expressar..
Sábias palavras..
bjsssssssssssss
Bethy
Obrigado, Bete! É sempre bom receber seus comentários. Abraço!!
ResponderExcluirObrigado por atender ao meu pedido meu amigo, adorei a suapostagem, realmente você sabe bem como falar sobre esse sentimento que pode ser encarado de várias formas... Realmente a saudade é uma coisa que assombra mais ao mesmo tempo alimenta a alma...
ResponderExcluirAbraço...
Little Fish
Obg, Fish.. Eu que agradeço pelo tema proposto. Falar sobre isso ajuda a entender coisas que só fazem sentido com o tempo ou a reflexão. E colocá-las num papel ou, neste caso num blog, contribui para desmistificar o fato de que saudade é algo que nos faz mal. Abraço..
ResponderExcluirArrazou!!!!!!! Parabéns mesmo! cada dia fazendo essas crônicas maravilhosas, faz esvaziar o peito qdo compartilhamos nossos sentimentos, e percebemos q n somos os únicos! Bjs. Saudades....heheheheh
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