sábado, 17 de abril de 2010

Saudade..


Tentei definir a saudade, mas me perdi nos seus conceitos
Fechei os olhos e achei melhor senti-la do que explicá-la
Nesse momento, esqueci de olhar pra mim
Procurei um espaço que trouxesse paz
Resgatei o tempo, as pessoas, as lembranças.

Descobri que sofrer por saudade entristece a alma,
envelhece o espírito e aperta o coração em meio às pancadas da nostalgia
daquilo que se foi, deixou de ser, permanece ou poderia ter sido;
De lugares, amores, infância e amigos.

Saudade se disfarça de ausência, confundindo a realidade;
É o medo de perder aquilo que nunca se teve;
Bate a porta sem avisar, às vezes calada; outras, ensurdecedora;
Fica nos cantinhos da casa, nos odores, na rotina;
Esgueira-se entre os travesseiros, quer dormir perto, junto ao peito;
Rasteja-se pela pele sem vontade de ir embora;

A saudade permanece nos acontecimentos, nas pessoas, no acaso, no previsível;
Confude-se com as folhas do outono: caem mas continuam lá,
esperando um vento que as leve embora;
Ressoa entre os vãos, percorrendo o tempo, sem pressa;
Deixa rastros e continua viva na sutileza das palavras e do pensamento alheio.
Senti-la é viver um flashback de emoções
que me faz acreditar que o provavel quase sempre torna-se real.

E entre sentir e pensar, sem querer, consegui defini-la.
Percebi que as lembranças nao precisam ser tristes pra que a saudade sobreviva ao tempo
Resgatei idéias guardadas no baú dos sonhos,
procurando tirar a poeira de um passado recente
E vi que, na vida, nada falha. O medo não existe mais.
E sem medo, enxugamos as lágrimas, respiramos fundo e seguimos em frente, como tem que ser.

"Saudade é respirar o sentimento daquilo que nos completa, onde quer que isso esteja." (Giuliano)



"Eu Sei, Mas Não Devia.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: "hoje não posso ir".
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma". (Marina Colasanti)

5 comentários:

  1. Parabéns Giuliano.

    Conseguiste passar para o papel tudoi aquilo que realmente tds nós temos vontade de dizer e muitas vezes por algum motivo não conseguimos nos expressar..
    Sábias palavras..

    bjsssssssssssss


    Bethy

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  2. Obrigado, Bete! É sempre bom receber seus comentários. Abraço!!

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  3. Obrigado por atender ao meu pedido meu amigo, adorei a suapostagem, realmente você sabe bem como falar sobre esse sentimento que pode ser encarado de várias formas... Realmente a saudade é uma coisa que assombra mais ao mesmo tempo alimenta a alma...

    Abraço...
    Little Fish

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  4. Obg, Fish.. Eu que agradeço pelo tema proposto. Falar sobre isso ajuda a entender coisas que só fazem sentido com o tempo ou a reflexão. E colocá-las num papel ou, neste caso num blog, contribui para desmistificar o fato de que saudade é algo que nos faz mal. Abraço..

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  5. Arrazou!!!!!!! Parabéns mesmo! cada dia fazendo essas crônicas maravilhosas, faz esvaziar o peito qdo compartilhamos nossos sentimentos, e percebemos q n somos os únicos! Bjs. Saudades....heheheheh

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